Em mais um capítulo da crescente ofensiva contra os gigantes da tecnologia, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, na sigla em inglês) está pressionando o Google a desmembrar partes essenciais do seu império de publicidade digital. A medida vem após uma decisão de um tribunal federal que determinou que a empresa opera um monopólio ilegal no setor de tecnologia de anúncios (ad-tech). Seria o fim do monopólio do Google?
Como solução para restaurar a concorrência, o governo norte-americano quer que o Google seja obrigado a vender duas de suas ferramentas mais poderosas no mercado publicitário: o Ad Exchange — plataforma que intermedia a compra e venda de espaços publicitários online — e sua plataforma de gerenciamento de anúncios, usada por grandes empresas para otimizar campanhas em vários canais.
A proposta radical, se acatada, representará uma das mais impactantes decisões antitruste dos últimos anos, atingindo o coração do modelo de negócios do Google, que depende fortemente da publicidade online. No site The Verge você pode encontrar mais informações.
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O que é o Ad Exchange e por que ele é tão importante?
O Ad Exchange, ou bolsa de anúncios, funciona como um mercado automatizado onde editores (como sites e aplicativos) disponibilizam seus espaços publicitários, e anunciantes competem em tempo real para exibir seus anúncios. O Google AdX, como é conhecido, domina esse setor há anos, exercendo influência tanto na venda quanto na compra de anúncios — um modelo criticado por concorrentes como sendo um conflito de interesses, já que a empresa atua dos dois lados da negociação.

Aqui neste post, por exemplo, há vários anúncios. Todos eles são exibidos através da plataforma Adsense. Desta forma, o Pink Fire ganha uma comissão sempre que os anúncios são exibidos. Os anunciantes pagam para o Google exibir os anúncios e o Google retém uma porcentagem.
A plataforma de gerenciamento de anúncios mencionada no processo é o Google Ad Manager, usada por editores para controlar o inventário de anúncios e maximizar receitas. O controle dessas ferramentas-chave dá ao Google uma vantagem esmagadora sobre rivais, que muitas vezes não conseguem competir com a escala e os dados que a empresa detém.
Justiça quer mais: possível venda do navegador Chrome
Além do setor publicitário, o Departamento de Justiça também mira o domínio do Google no mercado de buscas. Em um movimento ainda mais ousado, o governo sugeriu que a empresa deveria vender o navegador Chrome — utilizado por mais de 60% dos internautas no mundo — como parte de um remédio antitruste relacionado ao seu monopólio nas buscas online.
A justificativa é que o Chrome é usado para fortalecer a posição dominante do Google como buscador padrão, dificultando a entrada de concorrentes e limitando a escolha dos usuários. A possível venda do navegador seria uma medida inédita, com consequências profundas para a arquitetura da internet como conhecemos hoje.
O que diz o Google?
Como esperado, o Google reagiu tentando minimizar o impacto das acusações. Em documentos judiciais, a empresa propôs soluções menos radicais, como ajustes em suas práticas comerciais e maior transparência nas operações de anúncios. A gigante da tecnologia argumenta que a venda forçada de seus produtos não só é desnecessária como poderia prejudicar os consumidores e o ecossistema digital como um todo.
A decisão final ficará a cargo do juiz responsável pelo caso, mas o veredito só será emitido após o julgamento sobre os remédios — ou seja, as punições e soluções possíveis — marcado para setembro de 2025.
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Monopólio do Google: Um caso com repercussão global
O caso contra o Google integra uma série de ações movidas por autoridades reguladoras ao redor do mundo, preocupadas com o poder excessivo das big techs. Na Europa, por exemplo, o Google já enfrentou diversas multas bilionárias por práticas anticompetitivas. No Brasil, embora ainda não haja ação com a mesma dimensão, especialistas acompanham com atenção os desdobramentos, já que o domínio do Google também impacta diretamente o mercado publicitário brasileiro, especialmente para produtores de conteúdo e empresas que dependem de anúncios digitais.
Impacto no futuro da internet
Se o DOJ vencer, o desmembramento do Google poderá reconfigurar o mercado global de publicidade digital, hoje avaliado em mais de US$ 600 bilhões. Ao separar as operações de compra e venda de anúncios e limitar a integração entre navegador e buscador, a medida pretende criar um ambiente mais competitivo e transparente para anunciantes, editores e usuários.
No entanto, críticos alertam que a simples divisão de ativos pode não ser suficiente se não vier acompanhada de regulamentações claras e fiscalização constante. Afinal, o Google não é a única empresa com poder concentrado na internet — outras gigantes, como Meta (dona do Facebook e Instagram) e Amazon, também enfrentam escrutínio regulatório.
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