A tecnologia abriu várias oportunidades em diversas áreas da vida, mas nem tudo mudou para melhor. Junto com a expansão tecnológica, certos acontecimentos prejudiciais surgiram, por exemplo, a droga sonora.
Começou a circular nas redes sociais que jovens estão se interessando e usando uma droga virtual conhecida como I-Doser. Assim, começou vários boatos em relação a droga sonora. Mas nem tudo é verdade, por isso é importante saber do que se trata.
Origem da popularização da droga sonora
Os indícios apontam que essa história do I-Doser começou a se espalhar recentemente quando o vídeo de um menino viralizou no TikTok, na qual ele está ensinando seus seguidores a ter um efeito mental parecido ao de um alucinógeno.
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Assim, as redes sociais foram tomadas por assuntos sobre uma “nova tendência” entre os jovens, principalmente adolescentes, onde músicas poderiam ser usadas para ficar “doidão” sem precisar utilizar drogas físicas.
O que é i-Doser e como ela funciona?
Apesar dessa droga sonora ganhar repercussão há pouco tempo, ela já existe há décadas. Na prática, o i-Doser usa uma tecnologia de batidas binaurais, que foi descoberta em 1800. Esse tipo de som tem a promessa de induzir certos estados mentais como relaxamento, meditação e criatividade.
Para entrar nesse estado mental, só é possível porque as batidas binaurais emite dois sons com frequências e intensidades diferentes, mas bem próximas, e são combinados em um só.
Sendo assim, a droga sonora que ganhou notoriedade na internet, a i-Doser, na verdade é o nome de um software de armazenamento de arquivos em formato MP3 que utiliza a tecnologia de batidas binaurais.
Foto: Divulgação/Pexels
A i-Doser ganhou notoriedade por vender esse tipo de arquivo e já está no mercado há décadas. E, de acordo com a empresa, os seus arquivos de áudios oferecem por volta de 80% de eficácia, enquanto mídias enviadas no YouTube possuem a eficiência de 3%.
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A eficácia referida pela produtora do arquivo significa que os áudios podem induzir alguns efeitos como sonhos lúcidos, purificação de alma e mindfulness, que é um estado colocado em prática para ter um foco na atenção em cada movimento, situação e até mesmo na respiração.
Droga sonora e digital
A primeira vez que o i-Doser ganhou destaque foi durante uma sequência de matérias de diversos veículos de comunicação internacional, como o Daily Mail, realizadas em 2010, apontando que os áudios eram suficientes a induzir efeitos parecidos ao uso de drogas físicas, como o LSD, maconha e até a cocaína.
Entre os arquivos mais conhecidos estavam “Gates of Hades” (Portões de Hades) e “Hand of God” (Mão de Deus), com a alegação que poderiam induzir situações e experiências de quase morte, pesadelos e outros sentimentos que se assemelham aos sintomas das drogas físicas.
Então, adolescentes começaram a enviar vídeos em suas redes sociais na qual supostamente estavam sob os sintomas do i-Doser. Entretanto, o mais provável é que esses vídeos não passem de atuações.
Dessa forma, especificamente o i-Doser, não existe pesquisas que apontam que os arquivos produzidos pela empresa podem causar realmente os efeitos alucinógenos. Por exemplo, em um relato publicado no site Where Y’at, um usuário depois de 35 minutos de escutar o áudio não se sentiu diferente ou sofreu impactos pelas ondas sonoras.
Também vale destacar que o fundador do programa, Nick Ashton, afirma que o i-Doser foi criado para ser positivo e para ajudar seus clientes em certos problemas.
Essa afirmação tem fundamentos, até porque especialistas em batidas binaurais dizem que essa técnica não se trata de uma “droga digital”, mas sim, de uma terapia que pode ajudar no tratamento de transtornos, como a ansiedade, pois ela funciona como uma indução de estados nas ondas cerebrais, que podem ou não fazer com que as pessoas se sintam relaxadas.
Estudos sobre a droga sonora
Uma pesquisa feita no Japão mostra que o estímulo do cérebro em certas frequências é capaz de modular pensamentos que tenham ligação com solução de problemas. Essa maneira de estímulo tem o nome de “estímulo magnético transcraniano repetitivo”, ou EMTr.
O EMTr pode ressoar ritmos cerebrais e comportamentos cognitivos feitos em momentos de desistência, o que inclui aqueles que envolvem desistir de ter uma atitude nociva, como pensar de maneira compulsiva em algo que não pode ser resolvido. É justamente por esse efeito que se supõe que o EMTr pode ser utilizado no tratamento de alguns sintomas da depressão, como a ruminação mental.
Isso significa que as frequências estudas pela pesquisa conseguem estimular o cérebro a desistir de certos pensamentos, o que irá ajudar as pessoas a pararem a repetição de pensamentos que são negativos.
Há depoimentos de pessoas que usam as batidas binaurais para relaxar, trabalhar melhor ou passar por experiências sensoriais novas. É importante deixar claro para você que as batidas oferecem sons de frequências diferentes para cada ouvido. Assim, a experiência tem um resultado diverso e pode realizar um paralelo de ouvir uma música comum, na qual uma pessoa pode gostar de um som e a outra, não.
Já um estudo australiano publicado no periódico Drug and Alcohol Review, afirma que 5,3% dos entrevistados ouvem batidas binaurais para presenciar estados alterados. Desses, a maioria utilizou a técnica para relaxar ou dormir, mas 11,7% afirmaram usar os áudios para simular os sintomas como drogas.
O estudo consultou 30,8 mil pessoas em 22 países. Os indivíduos identificados com maior prevalência de uso da técnica foram Estados Unidos, México, Brasil, Polônia, Romênia e Reino Unido. A periodicidade de consumo desses áudios é maior na faixa etária entre os dezesseis e vinte anos.
O estudo não verificou se ocorreu alteração cerebral entre quem disse escutar as batidas. Então, os cientistas concluíram que não está claro se as batidas binaurais são parecidas com um efeito de drogas psicoativas.
Dessa maneira, ainda faltam indícios científicos para evidenciar consequências do consumo dessas batidas no organismo. Assim, não é possível afirmar que uma pessoa que já ouviu esses sons tenha sofrido algum dano cerebral.
De toda forma, por conta do crescimento desse assunto, A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), divulgou uma nota de alerta sobre a droga sonora. O texto sugere que o i-Doser é um “fenômeno atual”, que está sendo compartilhado em vídeos nas redes sociais.
Contudo, a real preocupação da SBP é com as possíveis lesões aos ouvidos, até mesmo porque o doser só é utilizado com fones de ouvido em uma altura elevada. E a outra preocupação é com a estimulação auditiva exagerada. Isso porque a estimulação exagerada e contínua pode causar a perda da neuroplasticidade e afetar as conexões precisas para a progressão cerebral e mental saudável.